FRANÇA - RHÔNE

Degustação técnica dia 30/05/2015

Tema da Degustação: França – Rhône (Ródano)

 

 
 

Hitórico:

O vale do Rhône é a região vinícola mais antiga da França. Localiza-se no sudeste Francês. O rio que lhe empresta o nome nasce nos Alpes Suiços, atravessa o centro da França e encontra o mar mediterrâneo na cidade de Marselha. Ao longo de seus quase 200 km de extensão (de norte a sul) diferentes tipos de solos e estilos de vinhos podem ser encontrados. Devido a essa diversidade divide-se o vale em duas partes: Norte (Setentrional) e Sul (Meridional).

 

RHÔNE DO NORTE (Setentrional): Se estende da cidade de Vienne até Valence. Produz cerca de 10% dos vinhos da região. O clima da região é do tipo Continental, com invernos frios e úmidos e verões bem quentes. As videiras (antigas) são plantadas nas íngremes encostas das montanhas e em terraços (socalcos) muito estreitos, às vezes, com uma fileira apenas de parreiras. O antigo solo de granito e ardósia é ralo e pobre. A erosão é uma ameaça tão séria, que se não fossem os terraços e os muros de pedra construídos cuidadosamente à mão e que os mantêm no lugar, as parreiras deslizariam pelas encostas. O rendimento é baixíssimo, a qualidade é espantosa. Devido ao terreno acidentado a colheita é totalmente manual.
A única uva tinta permitida no norte é a Syrah. As brancas são Viognier, Marsanne, Roussane e Muscat (usada no vinho de sobremesa fortificado). A Syrah plantada ali produz alguns dos mais exóticos e intensos vinhos do mundo.

 

RHÔNE DO SUL (Meridional): Se estende a cerca de 1 hora ao sul da cidade de Valence até Avignon, e avança a sudeste até a Provence, próximo a Nimes, Marseille e Aix-em-Provence. Produz cerca de 90% dos vinhos da região. O clima é do tipo Mediterrâneo, ensolarado, com invernos amenos e verões muito quentes sempre sujeitos ao Mistral, vento frio que sopra dos Alpes (de norte para sul). Ele atravessa o vale do Rhône, ganhando velocidade e força. Normalmente ele é um amigo do viticultor: no periodo de crescimento das uvas, o mistral refresca as parreiras ajudando as uvas a reteram a acidez. Perto da colheita, atua como um gigantesco secador, livrando as uvas da umidade e do bolor. Muitos produtores acreditam que o mistral provoca substancial evaporação, o que concentra o açúcar e a acidez nas uvas. Contudo o mistral pode ser tão violento que pode partir as videiras. Em consequências os melhores vinhedos situam-se em trechos de terra parcialmente abrigados e as parreiras são podadas bem junto ao chão. Os vinhedos do sul se espalham a partir do rio por 30 a 50 km, em terras mais planas e colinas mais suaves. O solo do sul é de argila, calcário arenoso, cascalho, ou apenas pedras.
As uvas tintas permitidas no sul são: Grenache (principal uva tinta do sul), Mourvèdre, Syrah, Cínsault, Counoise, Muscardin, Terret Noir, Vaccarèse, Carignan, Calítor, Gamay e Pinot Noir. As brancas são: Grenache Blanc, Clairette, Bourboulene, Picardan, Picpoul, Ugni Blanc. Os vinhos do sul são combinações de muitas variedades de uvas, tintas e brancas Há uma razão para o corte: no clima quente e seco do sul, as uvas clássicas como a Syrah podem perder o foco e a intensidade. Outras menos nobres podem se adaptar bem ao calor, mas raramente possuem caráter suficiente para produzir um vinho satisfatório. O corte é a maneira de criar um vinho de melhor qualidade.
Dois outros tipos de vinhos são produzidos no sul: os rosés e os doces.

 

Denominações de origem (zonas demarcadas) – AOC (Appellation d’Origine Contrôlée):muitos vinhos são conhecidos não pelas uvas das quais são feitos, mas por nomes geográficos, como os Bordeaux franceses, os Chianti italianos, os Rioja espanhóis. Isso é possível porque cada vinho é único, fruto da interação entre a genética da planta, as técnicas de vinificação do enólogo e o terroir da região. O conceito de terroir é a base dos sistemas que legislam sobre as denominações de origem, inclusive do sistema francês AOC, que tem sido modelo para os outros países. Os sistemas de denominação procuram criar padrões de qualidade, por meio de algumas restrições, como: a delimitação da área geográfica, as cepas autorizadas, os métodos de vinificação autorizados, a produtividade máxima por hectare, a graduação alcoólica, as normas específicas de rotulagem. Assim, com denominações mais ou menos rígidas, cria-se uma identidade única para determinados vinhos. Não só para vinhos, na França existe legislação equivalente para queijos, lentilhas, mel, nozes, a até para feno.
Existem as AOCs genéricas (que podem ser produzidas em todo o território) e as AOCs Comunais(ligadas a locais específicos).
Genéricas: Côtes du Rhône (produzida em todo o território da região) e Côtes Du Rhône Villages (reservada a algumas localizações de melhor qualificação). Produzam vinhos tintos, brancos e rosés. Existem enormes diferenças de qualidade entre produtores dessas AOCs, o que responde por preconceitos negativos que não devem ser estendidos à totalidade dessas apelações, pois existem ótimos vinhos.
Comunais: ao todo são 23 AOCs, que variam desde vinhos básicos, até ícones.
-Principais AOCs do Norte: Hermitage (tinto e branco), Crozes-Hermitage (tinto e branco), Côte Rôtie (tinto), Cornas (tinto), Saint-Joseph (tinto e branco), Condrieu (branco), Chateau-Grillet (branco).
-Principais AOCs do Sul: Chateauneuf-du-Pape (tinto e branco), Gigondas (tinto e rosé), Vacqueyras (tinto, branco e rosé), Tavel (rosé), Beaumes-de-Venise (branco, fortificado, doce).

 

Hermitage: uma das mais nobres e pequenas AOCs, se restringe a uma colina única, cidade de Tain L´Hermitage, que abrigava um antigo eremitério, onde paravam os heremitas da região para provar de seus vinhos, há 300 metros de altura, com vinhedos agarrados na encosta, mais ao sul da região setentrional, com cerca de 300 acres. Responde por cerca de 0,15% da produção do norte.
Hermitage tinto é o mais reverenciado vinho do norte do Rhône, embora o Côte-Rôtie esteja nos seus calcanhares. A única uva tinta do Hermitage é a Syrah. Até 15% de uvas brancas (Marsanne e/ou Roussanne) podem participar do Hermitage tinto, mas poucos produtores as acrescentam. O solo empobrecido que cobre a colina de Hermitage varia desde o calcário arenoso, até pederneira, calcário e giz. Tinto potente e viril, muito “masculino”, precisa de tempo para desenvolver seus melhores aromas e pode ser guardado por décadas.
O Hermitage branco pode ser feito de duas uvas: Marsanne e Roussanne. A Marsanne, mais comum e mais abundante, muitas vezes possui um aroma desagradável que lembra cola, cosméticos; outras vezes a uva aparece com um aroma rico, terroso, com sabor de baunilha e sem cheiro de cosmético. Nos melhores vinhos a Marsanne é cortada comum pouco de Roussanne, uva mais rara, com aromas mais sensuais, que dá complexidade ao vinho. O Hermitage branco não é um vinho frutado, é oleoso, resinoso e terroso.

 

Châteauneuf-du-Pape: Chatêauneuf-du-Pape, novo castelo do papa, refere-se a época do século XIV em que o para não residia em Roma, e sim na cidade murada de Avignon, bem ao sul desses vinhedos. O papa que instigou essa mudança de residência foi Clemente V. Mais tarde seu sucessor João XXII, construiu uma nova residência papal de verão entre os vinhedos. Châteauneuf-du-Pape era chamada nos seis séculos seguintes de Châteauneuf-Calcernier em homenagem a uma aldeia próxima que possuia uma pedreira de calcário. Só no século XX, depois de melhorias nos vinhedos e na produção dos vinhos, é que passou a usar o nome de Châteauneuf-du-Pape. É o vinho mais importante e prestigiado do sul do Rhône. A região é grande para os padrões do Rhône, tem um pouco mais de 8 mil acres e responde por cerca de 3% da produção. De tudo o que distingue Châteauneuf, o que mais surpreende são as pedras redondas e macias que estão por toda a parte. Muitos vinhedos são enormes canteiros de pedras, sem nenhum solo visível. Essas pedras e rochas, que variam de tamanho de um punho até o de uma abóbora pequena, são vestígios de antigas geleiras dos Alpes. O retraimento dessas geleiras, junto com a elevação da temperatura, cortou pedaços de quartzito dos flancos dos Alpes. Durante muitos milênios, esses pedaços de quartzitos rolaram, se quebraram e se arredondaram com as tumultuosas águas do então rio Ródano. Quando o rio diminuiu, as pedras ficaram espalhadas sobre os planaltos e terraços. Embora exista solo por baixo das pedras, que varia de argila a calcário arenoso e cascalho, a terra é extremamente difícil de se trabalhar, e manter os vinhedos é um processo lento e doloroso. O que não falta aos vinhedos é calor. As pedras retêm o calor e portanto apressam o amadurecimento. Ao mesmo tempo essas pedras evitam que o chão fique seco e ajudam a manter a umidade do solo, uma dádiva para as parreiras, principalmente durante o verão.
Mais de 90% dos vinhos de Châteauneuf são tintos, embora haja brancos e rosés. As uvas que podem ser usados são as chamadas “treze de Châteauneuf” (na verdade quatorze, oito tintas e seis brancas). Praticamente nenhum outro produtor além do Château Beaucastel, prepara vinho de uma só qualidade. As três uvas principais são: a Grenache (plantada até ficar doce e madura e ter um sabor de geléia caseira), a Syrah (para aprofundar a cor e acrescentar tempero), e a Mourvèdre (para aumentar a estrutura e a elegância). Outras uvas: tintas: Cinsault, Muscardin, Counoise, Vaccarèse, Terret Noir; brancas: Grenache Blanc, Clairette, Bourboulenc, Roussanne, Picpoul e Picardan.
Produz-se também uma pequena quantidade de vinho branco (7% da produção total). A maioria é sem forma e sem sabor, porém há exceções.
Por lei, Châteauneuf-du-Pape tem um dos rendimentos mais baixos da França: 35 hectolitros por hectare (1.393 litros por acre). Só nos rendimentos muito baixos é que essas uvas passam à esfera do extraordinário. Não se vêem muitos barris pequenos de carvalho novo no sul do Rhône. Há uma razão para isso: a Grenache é vinificada em grandes tanques de cimento. Ela é facilmente suscetível à oxidação, e portanto, barris e madeira que são porosos, não são ideais. Vinhos produzidos de outras variedades de uva, como Syrah e Mourvèdre, são muitas vezes feitos em grandes e velhos barris chamados de foudres. Como os vinhos não são armazenados em pequenos barris de carvalho novo, não tem aquele caráter tostado e de baunilha. Ao contrário, ele é verdadeiramente pedra e solo, os legítimos sabores do terroir.

 

  • VINHO 1: Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Rouge 2012
  • Produtor: Familie Perrin
  • Composição: 30% Grenache + 30% Mourvèdre + 10% Syrah + 10% Counoise + 5% Cinsault.
  • Teor alcoólico: 14,5%;
  • Visual: rubi, límpido, transparente, brilho intenso, denso.
  • Olfativo: frutas vermelhas, especiarias, tostado, herbáceo, floral.
  • Gustativo: adocicado no inicio, acidez adequada, amargor sutil, taninos intensos, encorpado, longa persistência, equilibrado.
  • Nota final: 88
  • VINHO 2: Châteauneuf-du-Pape Cuvèe Prestige 2011
  • Produtor: Roger Sabon
  • Composição: Grenache (mais de 95%) + Syrah + Mouvèdre + Counoise + Vaccarese.
  • Teor alcoólico: 15%;
  • Visual: rubi com reflexos violáceos, límpido, transparente, brilho intenso, denso.
  • Olfativo: frutas vermelhas, couro, café, herbáceo, especiarias.
  • Gustativo: pouca acidez, amargor marcante, corpo de médio a encorpado, boa persistência, equilibrado.
  • Nota final: 91.
  • VINHO 3: Hermitage M. de la Sizeranne 2007
  • Produtor: M. Chapoutier
  • Composição: 100% Syrah
  • Teor alcoólico: 13,5%;
  • Visual: rubi com reflexos alaranjados, leve turbidez, denso.
  • Olfativo: baunilha, tabaco, químico, mineral.
  • Gustativo: acidez e amargor adequados, corpo médio, falta tanino. Não agradou.
  • Nota final: 78
  • Vinho 4: Hermitage la Petite Chapelle 2006
  • Produtor: Paul Jaboulet Aîné
  • Composição: 100% Syrah
  • Teor alcoólico: 14%
  • Visual:rubi com reflexos alaranjados, límpido, transparente, denso.
  • Olfativo: aromas intensos e complexos, baunilha, frutas vermelhas, compota, especiarias, pimenta, floral, manteiga.
  • Gustativo: potente, acidez e amargor adequados, taninos macios, encorpado, ótima persistência, muito equilibrado, uma explosão na boca. Um vinho excepcional.
  • Nota final: 93
  • Jantar
  • Entrada: Creme de maçã verde
  • Principal: Coq au Vin
  • Sobremesa: Peras ao vinho com licor de cassis e sorvete de creme.