GRÉCIA

Degustação técnica dia 08/10/2011: “A Grécia Enológica”

Fizemos uma degustação memorável: vinhos pouco conhecidos, a maioria feito de uvas autóctones, muito bem elaborados e com um ótimo custo benefício. Nosso presidente de honra Julio Anselmo elaborou e coordenou esta fantástica degustação. Nossos agradecimentos ao nosso querido Julinho por ter nos dado a oportunidade de conhecer estes bons e diferentes vinhos.

Seguem abaixo os comentários desta degustação, um histórico sobre a produção dos vinhos gregos elaborado por Julio Anselmo, e as fotos de mais esse evento realizado por nossa confraria.

  • País: Grécia
  • Importadora: Supermercado Verdemar (BH)
  • Vinho 1 - Tsántali - Moschofilero - 2010
  • Uva: Moschofilero.
  • Região: Ática/Mantinía.
  • Vinificação: fermentação em tanque inox e não passa por maturação.
  • Teor alcoólico: 11,5%
  • Visual: palha, límpido.
  • Aroma: frutado (lima da pérsia, abacaxi), mel e leve especiarias.
  • Gustativo: corpo médio, leve amargor, boa acidez, equilibrado.
  • Nota: 73,85 - Preço: R$ 32,98
  • Vinho 2 - Tsántali – Nemea - Epilegmenos (Reserve) - 2004
  • Uva: Agiorgitiko.
  • Região: Peloponnesos/Nemea.
  • Vinificação: fermentação em tanques de cimento.
  • Maturação: 2 anos em carvalho francês.
  • Teor alcoólico: 12,5%
  • Visual: rubi, límpido.
  • Aroma: frutado, químico, borracha e madeira.
  • Gustativo: taninos vivos e finos, corpo médio, equilibrado, leve amargor final, boa persistência.
  • Nota: 75,45 – Preço: R$ 32,98
  • Vinho 3 - Tsántali – Naousa - Epilegmenos (Reserve) - 2006
  • Uva: Xinomavro.
  • Região: Makedonia/Naousa.
  • Vinificação: Fermentação em tanque inox.
  • Maturação: 1 ano em carvalho francês (10% novo e 90% de segundo e terceiro uso).
  • Teor alcoólico: 13,5%
  • Visual: rubi, límpido.
  • Aroma: fruta vermelha (compota), terroso.
  • Gustativo: taninos excessivos e verdes, pouco desequilibrado, acidez presente, corpo leve.
  • Nota: 70,00 – Preço: R$ 34,00
  • Vinho 4 - Tsántali – Rapsani - Mt. Olympus - Epilegmenos (Reserve) -2004
  • Uva: Xinomavro + Krassato + Stavroto.
  • Região: Tessália/Monte Olimpus.
  • Vinificação: fermentação em tanques de cimento.
  • Maturação: 18 meses em barrica de carvalho francês novo.
  • Teor alcoólico: 13,5%
  • Visual: rubi, límpido.
  • Aroma: floral, madeira.
  • Gustativo: encorpado, equilibrado, taninos intensos e macios, longa persistência.
  • Nota: 78,21 – Preço: R$ 59,98
  • Vinho 5 - Tsántali - Mount Athos Vineyards Metochi Chromitsa - Domain Of Monastery Agios Panteileimon - 2003
  • Uva: Limnio + Grenache.
  • Região: Macedônia/Monte Athos (Metoxi ou Metochi = município, cidade).
  • Vinificação: fermentação em tanques inox, maceração por 15 dias.
  • Maturação: 12 meses em carvalho francês novo.
  • Teor alcoólico: 13,5%
  • Visual: rubi, límpido.
  • Aroma: fruta madura (ameixa preta), tostado.
  • Gustativo: encorpado, taninos macios, muito equilibrado, boa persistência.
  • Nota: 82,25 – Preço: R$ 53,98
  • Vinho 6 - Tsántali - Metoxi “X” Chromitsa - 2005
  • Uva: Xinomavro + Limnio + Carbernet Sauvignon.
  • Região: Macedônia / Monte Athos (Mosteiro de St. Panteilemon).
  • Vinificação: fermentação em tanques inox, maceração por 20 dias.
  • Maturação: 18 meses em carvalho francês novo.
  • Teor alcoólico: 13,5%
  • Visual: rubi, límpido.
  • Aroma: frutas vermelhas (compota), mentol, madeira.
  • Gustativo: taninos macios, encorpado, muito equilibrado e longa persistência.
  • Nota: 87,70 – Preço: R$ 69,98
  • Vinho 7 - Tsántali - Mavrodaphne of Patras – Cellar Reserve – 5 years Old Oak Aged – Não safrado (garrafa de 500 ml)
  • Uva: Mavrodaphne.
  • Região: Peloponésio / Patras.
  • Vinificação: fermentação em tanques inox, interrompida pela adição de álcool vínico.
  • Maturação: 5 anos em carvalho francês.
  • Teor alcoólico: 18%
  • Visual: tijolo.
  • Aroma: uva passa, madeira.
  • Gustativo: doce, leve salgado no final, muito equilibrado e com longa persistência. Uma bela surpresa.
  • Nota: 92,68 – Preço: R$ 26,98

Autor: Dr. Júlio Anselmo de Sousa Neto

 

A Grécia, esse belo país de 131.990 km2 (metade da área do Estado de São Paulo ou um quarto de Minas Gerais) e 11 milhões de habitantes, número menor do que o número de turistas que a visitam por ano: 13 milhões!!! Infelizmente, a maioria desses turistas não sabe que este belo país, além de suas belezas naturais, sua riqueza histórica e cultural e sua gastronomia rica e saudável, tem ainda outro tesouro: seus vinhos, únicos, intrigantes e repletos de história! Portanto, conhecer um pouco sobre eles e degustá-los é uma experiência imperdível para qualquer enófilo.

Um Pouco da História

A elaboração de vinhos na Grécia se iniciou há, pelo menos, 3.600 anos, e floresceu no período da Magna Graecia (século 8 a.C.), apogeu da Civilização Helênica, época em que os gregos conquistaram terras, fundaram cidades no sul da Itália (como Nápoles e Taranto, na península, e Nexos e Siracusa, na Sicília) e da França (Marsellha, Narbone, etc.) e nelas implantaram a vitivinicultura. Desse modo, foram os gregos que transmitiram a vitivinicultura aos romanos que, por sua vez, a disseminaram por toda a Europa Ocidental e pelo Norte da África, durante o domínio do Império Romano durante cinco séculos (27 a.C.- 476 d.C.). Portanto, se a Itália é a "mãe" da vitivinicultura ocidental moderna, a Grécia é a "avó"!

Panorama Vitinílico Atual

O país tem 129 mil hectares de vinhedos, cujas uvas propiciam a 400 produtores de vinhos uma produção anual de 400 milhões de litros que fazem do país o 13º. produtor mundial de vinhos, duas posições à frente do Brasil (320 milhões). Acompanhando a queda de tendência mundial, o consumo "per capita" anual de vinhos na Grécia, que era de 45 litros na década de 1980, hoje é de cerca de 26 litros. Embora cerca de 90% da produção anual seja constituída pelos modestos "Vinhos de Mesa" (ver o tópico "Classificação"), os 10% restantes são vinhos de muito boa qualidade e as estatísticas têm mostrado que esse percentual tem crescido continuamente. O aumento do nível da qualidade é evidente, sobretudo nos vinhos de exportação (8% da produção anual) que necessitam conquistar um mercado cada vez mais ávido por produtos de qualidade. Melhor ainda, os vinhos gregos elaborados com castas autóctones, varietais ou em corte com uvas francesas, fogem da homogeneização global e estão entre os vinhos do mundo de melhor relação preço-qualidade.

As Uvas

Além da sua milenar tradição enológica, o outro grande diferencial da Grécia é o fato de possuir cerca de 300 variedades de uvas autóctones. Muitas delas são antiquíssimas e foram levadas a outros países mediterrâneos, especialmente a Itália, onde deixaram descendência. Atualmente, entre as uvas de maior importância na elaboração de vinhos finos gregos se destacam as brancas Assyrtico, Athiri, Moscháto (sub-variedades Alexandrias e Aspro), Moschofilero, Roditis, Savatianó e Vilana e as tintas Agiorgitiko (St. George ou Mavro Nemeas), Krassato, Limnió, Mandilaria, Mavrodaphne (Mavrodafni), Moschomavro (Moschato Mavro), Stavroto e Xynómavro. Na Grécia também se plantam uvas das variedades francesas ditas internacionais (Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot, Grenache, etc.) que, em sua maioria, são utilizadas em corte com as uvas autóctones.

A Classificação

Os vinhos gregos são classificados nos seguintes níveis ascendentes de qualidade:

E.I. (Epitrapezios Inos) - Vinho de Mesa, equivalente ao Vin de Table francês e o Vino da Tavola, italiano.

T.I. (Topikos Inos) - Vinho Local, equivale ao Vin de Pays francês e ao Indicazione Geografica Tipica italiano.

O.P.A.P. (Onomasía Proeléfseos Anotéras Piótitos) - Denominação de Origem de Qualidade Superior e equivale à denominação francesa V.Q.P.R.D. (Vins de Qualité Produits dans une Region Déterminé).

O.P.E. (Onomasía Proeléfseos Eleghoméni) - Denominação de Origem Controlada, homônima da francesa A.O.C. (Appellation de Origine Contrôlée).

As denominações T.I., O.P.A.P. e O.P.E. constituem a categoria de vinhos finos, existindo 139 T.I., 25 O.P.A.P. e apenas 8 O.P.E., esta última atribuída apenas a vinhos doces (de sobremesa).

1. Quanto ao tempo de envelhecimento, os vinhos podem ser classificados em:

Epilegmenos (Reserva)* - Vinhos O.P.A.P. e O.P.E. brancos envelhecidos no mínimo por 2 anos e tintos envelhecidos por no mínimo 3 anos, dos quais 6 meses passados em barrica.

Idika Epilegmenos (Gran Reserva) - Vinhos O.P.A.P. e O.P.E. brancos envelhecidos por no mínimo 3 anos, sendo 1 ano em barrica, e tintos envelhecidos por no mínimo 4 anos, com 2 anos em barricas.

Kava - Vinhos E.I. (Vinhos de Mesa) com tempo de envelhecimento igual ao de um O.P.A.P. ou O.P.E. Epilegmenos.

2. Quanto ao teor de açúcar os vinhos gregos podem ser: a) Xeros - seco; b) Imíglyko - meio-doce; c) Glykó - doce.

As Regiões

As regiões vinícolas da Grécia se localizam em seis áreas do Continente e em onze ilhas, das quais sete delas no Mar Egeu (parte oriental do Mediterrâneo) e quatro no Mar Jônico (parte ocidental do Mediterrâneo). A seguir, são apresentadas as principais regiões vinícolas e suas respectivas sub-regiões.

Regiões vinícolas no Continente (no sentido norte-sul) e suas Denominações de Origem

Thraki (Trácia) - Não possui Denominações de Origem.

Makedonia (Macedônia) - Subregiões: Naousa, Amyndaio, Goumenissa, Giannitsa, Thessaloniki, Halkidiki, Drama e Kavala.

OPAP: Amyndaio, Goumenissa, Naousa, Playies Melitona Red, Playies e Melitona White / OPE: Nenhuma.

Épirus (Épiro) - OPAP: Zitsa / OPE: Nenhuma.

Thessalia (Tessália) - Subregiões: Tyrnavos, Larissa, Karditsa, Anhialos.

OPAP: Anhialos, Messenikola e Rapsani / OPE - Nenhuma.

Grécia Central - Não possui Denominações de Origem.

Peloponessos (Peloponeso) - Subregiões: Neméa, Mantinía, Eleia, Achaïa, Egio, Lakonia e Messinia.

OPAP: Mantinia, Nemea e Patra / OPE: Muscat of Patra, Muscat of Rio of Patra e Mavrodafni of Patra.

Regiões vinícolas em ilhas do Mar Egeu e suas Denominações de Origem

Kriti (Creta) - OPAP: Arhanes, Dafnes, Peza Red, Peza White, Sitia Red e Sitia White / OPE: Nenhuma.

Limnos - Denominações de Origem: OPAP - Limnos / OPE - Moschato Alexandrias.>/

Mykonos - Não possui Denominações de Origem.

Paros - OPAP: Paros Branco e Paros Tinto / OPE: Nenhuma.

Rodes - OPAP: Rodes Branco e Rodes Tinto / OPE: Moschato de Rodes.

Samos - OPAP: Nenhuma / OPE: Moschato de Samos.

Santorini - OPAP: Santorini Branco / OPE: Nenhuma.

Regiões vinícolas em ilhas do Mar Jônico e suas Denominações de Origem

Kefalonia - OPAP: Robola of Kefalonia / OPE: Moschato of Kefalonia e Mavrodafni of Kefalonia.

Kerkyra (Corfu) - Não possui Denominações de Origem.

Lefkada - Não possui Denominações de Origem.

Zakyntus - Não possui Denominações de Origem.

Os Vinhos

Brancos

Os vinhos gregos brancos são, em geral, frutados e muito frescos, especialmente os secos. Os de maior destaque são os elaborados com a uva Assyrtiko (considerada a melhor uva branca do país, especialmente os da ilha de Santorini que costumam ser elegantes) e os da uva Moschofílero. Também merecem destaque os vinhos feitos com a uva Moscháto (Moscato), especialmente os do tipo doce (vinhos de sobremesa), existindo duas sub-variedades dessa uva: a Moscháto Alexandrias que dá bons vinhos principalmente na ilha de Limnos, a Moscháto Aspro que origina vinhos mais famosos, produzidos em Patras e, sobretudo, na ilha de Samos. Cabe ainda lembrar o polêmico Retsina, vinho barato, simples e refrescante, elaborado com diferentes uvas, especialmente Roditis e Savatiano, muito consumido no verão.

Tintos

Há vinhos tintos de todos os estilos, desde leves e frutados, até encorpados, complexos e elegantes. Entre os eles, se destacam os das uvas Agiorgítiko e Xynómavro, responsáveis pela projeção internacional dos vinhos gregos. Os vinhos de Agiorgítiko predominam na região de Nemea, são ricos em taninos finos, se prestam bem ao amadurecimento em carvalho e, podem ter um perfil variável, dependendo do estilo de vinificação, desde ligeiros até bem estruturados e macios, lembrando um Merlot. Já os vinhos de Xynómavro (literalmente negro-ácido) predominam na Makedonia, principalmente na região de Naousa (região com maior número de produtores de vinhos de qualidade), e são feitos em vários estilos que lembram desde Beaujolais, para os vinhos mais jovens, até Bourgogne, Bordeaux, Chianti e Barolo, para os vinhos maduros e estruturados. Merecem também ser citados os vinhos das uvas Krasato e Stavroto, predominante na Thessalia, mais usados no corte (mistura) com vinhos de Xynómavro na OPAP Rapsani, resultando em vinhos complexos no estilo Bordeaux, e vinhos menos complexos e em menor quantidade na Makedonia. Também na Thessalia há vinhos da uva Limnio, originada na ilha de Limnos (onde hoje é pouco abundante), de boa cor, de toques herbáceo e encorpados.